O que nos diz a Samaumeira?

Seria pretencioso de nossa parte estar em meio à Amazônia, onde a árvore da vida faz sua morada, e não nos conectarmos a essa que é a própria entonação da Amazônia: exuberante em natureza e alteridade.

Quando nos deparamos com uma Samaumeira, impossível não medir sua potência, seu tronco rijo, forte, a segurar galhos tão frondosos que nos deixa extasiados, diante de sua beleza una, singular e exuberante. A Sumaúma é o ato em esplendor.

A Samaúma, Sumaúma, Ceiba, Kapok é encontrada em florestas da América Central, África Ocidental, Sudeste Asiático e América do Sul. No Brasil, é árvore da vida, árvore-mãe, árvore-rainha, escada do céu, portal de mezinhagem, portal de encantados. Onde ela existe, a floresta vive, resiste, renova-se constantemente.

A Samaúma nos convida a refletir sobre o tempo e a transformação da natureza. Para os povos originários, essa árvore-vó une o atual ao ancestral, rege a sinfonia das vozes entre elos anteriores e os elos vindouros, a fortalecer nossas conexões com o mundo, com a natureza, com o outro.

De valor sagrado, a Samaúma não passa despercebida aos sujeitos que com ela interagem: é sombra generosa, som que comunica, portal de encantados, fibra que fortalece, tronco-resistência, copa-morada de seres diversos, plurais, transcendentais, lugar espiritual. Sua existência em si é benção! É luz!

A Samaúma em suas mezinhagens, mistura crença e imaginação, é portal sagrado entre os viventes e outros entes. Em um ambiente em degradação, ela resiste. Suas sementes-painas pairam em lugares vários, a continuar a existência entre o ancestral e o imaginário. Nesse sentido, Samaúma é interação.

Por isso, para nós, a Samaúma é signo dialógico que traz em si a persistência, a alteridade, impregnada de sentidos, de tons, valores: sagrados, sociais, ambientais, culturais, singulares e plurais.

Sua densa copa é tanto abrigo, quanto morada; tanto deleite quanto esplendor. É a representação quanto cada ser, criaturas, do mais pequenino inseto aos encantados da floresta e das cidades são importantes na natureza.

Logo do Grupo DIEL - Dialogismo e Ensino de Línguas

Suas raízes-sapopembas se contorcem em desenhos curvilíneos que desenham abraços em uma sintonia em que fortalecem a si à medida que se tornam parte da floresta. Fincadas na profundidade do subsolo, a árvore-mãe nos lembra da importância de sermos fortes, resistentes e resilientes diante de tantos desafios.

Nesse sentido, a Samaúma é, para nós, do grupo Dialogismo e Ensino de Língua, signo ideológico, que incorpora em si os diferentes universos em que o homem amazônico se insere. Como signo, ela é linguagem que irrompe em sentidos férteis de diversidade e de firmeza, empresta ao grupo o significado de ser elo entre tantos universos: urbanos, periféricos, ribeirinhos, indígenas, quilombolas, praieiros, campesinos, rurais, plurais por meio da educação em linguagem, a pairar, potente, resistente e resiliente no habitat em que brota, a irrigar e irrigar tantos outros na abundância de servir ao outro, seja na sala de aula, seja na vida.

Dessa forma, a Samaúma, tal como na sabedoria do nosso povo, além de escada para o céu é, também, ponte-palavra entre as tantas vozes da Amazônia que ressonam saberes, dizeres, conhecimentos, discursos, linguagens de povos originários, diversos, que precisam chegar ao topo, para vermos sua grandiosidade, sua riqueza, sua beleza. Que como cada Samaúma, são únicos e especiais.

Tão especiais como os grafismos marajoaras que trazem em si a essência dos povos originários, ancestrais do homem nortista, marajoara. Cada símbolo-linguagem é arte, formas de ser e de significar o homem amazônico no espaço-tempo do antes e do agora. Assim, ao fiar a sigla DIEL com as linhas simbólicas dos signos semióticos, juntamo-nos em elo ao fio ancestral que tece nossa identidade, nossa pertença, nossa essência, rumo a um novo tempo.

Assim como as sapopembas fincam-se no solo sagrado da floresta e ressonam mensagens entre povos originários e mesmo de entes encantados, nossa voz ecoa sons, que vibram e ressonam tons diversos, fincadas no solo fértil do diálogo ético e responsável, a ecoar sementes-paina que brotarão nos mais distintos rincões da Amazônia, a reflorestar discursos e irrigar consciências.

Gercilene Santos

Identidade visual do DIEL

A identidade visual do Grupo de Pesquisa “Dialogismo e ensino de línguas” (UFPA/CNPq), inserido na Amazônia, apresenta elementos que a representam e que remetem ao seu bioma, à sua cultura, aos seus povos.

Nesse sentido, a sigla DIEL é composta por grafismos marajoaras que evidenciam a cultura e a identidade dos povos ancestrais da Ilha do Marajó, sincronizada em semioses e valores únicos e genuínos. Assim como nos ensina os pensadores do Círculo de Bakhtin, cada letra é mais que um significante, é signo ideológico: A letra D representa a arte cerâmica. O I remonta à tecelagem dos povos amazônicos. A letra E representa a música indígena e os instrumentos. O L as pinturas corporais.

Com relação à Samaumeira, nas palavras de Gercilene Santos, pesquisadora do DIEL, “Seria pretencioso de nossa parte estar em meio à Amazônia, onde a árvore da vida faz sua morada, e não nos conectarmos a essa que é a própria entonação da Amazônia: exuberante em natureza e alteridade”.

“Quando nos deparamos com uma Samaumeira, impossível não medir sua potência, seu tronco rijo, forte a segurar galhos tão frondosos que nos deixa extasiados, diante de sua beleza una, singular e exuberante. A Sumaúma é o ato em esplendor” (Gercilene Santos).

Assim, os grafismos marajoaras sincronizam-se à Samaumeira, homem e natureza fundidos em um único signo, DIEL, enunciado tecido e trançado por linguagens humanas na arte da vida em ato. Logo, DIEL é o grupo de pesquisa que busca Dialogar com o Imaginário do homem amazônico e suas Expressões em Linguagens várias, em sinfonia com a cultura e a identidade de povos indígenas, comunidades tradicionais e a urbanidade contemporânea e seus dilemas existenciais por meio da educação em linguagem.

Com relação à escolha da Arte, Samara Ferreira, Michelly Nogueira e Márcia Ohuschi denotam a versatilidade e a criatividade de mulheres-pesquisadoras amazônicas em uma composição artística singular e potente, a refranger valores tão únicos do homem e da mulher da Amazônia. Suas escolhas valoradas evidenciam a sensibilidade e a força do feminino na luta por uma educação verdadeiramente transformadora.

Arte: Samara Ferreira e Michelly Nogueira.